Os presidenciáveis protagonizaram o primeiro debate das eleições, na noite de domingo, promovido por um pool de emissoras, formado pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, portal UOL, Folha de S.Paulo e TV Cultura. Por duas horas, os seis candidatos convidados – Ciro Gomes (PDT), Felipe d’ Avila (Novo), Jair Bolsonaro (PL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) – discutiram propostas e ações do atual e governos anteriores e trocaram farpas.
Para o primeiro debate, o tom foi bastante agressivo e, em muitos momentos, alguns presidenciáveis deixaram as propostas de lado e trocaram acusações. Mas a participação dos seis possibilitou a comparação de projetos e ideias e contrapontos, permitindo ao eleitor conhecer melhor cada um dos postulantes ao Palácio do Planalto.
Além do eleitor, quem ganhou foi a democracia, inclusive pela participação dos dois candidatos que lideram as pesquisas – Lula e Bolsonaro –, já que é importante a população conhecer os projetos de cada um para governar o país. Pelo desempenho dos dois, é possível que ambos ou um deles deixe de participar dos próximos debates, então o confronto de domingo foi fundamental.
Aliás, o desempenho dos presidenciáveis no debate e nas sabatinas do Jornal Nacional será medido nas várias pesquisas que serão divulgadas nesta semana.
Mentiroso para lá e para cá
Protagonistas do debate, Bolsonaro e Lula foram dúvidas até a véspera do debate, mas acabaram participando do confronto. E logo na primeira oportunidade de confronto entre ambos, o atual presidente questionou o petista sobre a corrupção na Petrobras. Lula ficou emparedado e não conseguiu responder. Primeiro, enumerou os órgãos de controle e transparência criados na sua gestão e, como consequência, seu governo foi o que “mais fez investigações para que apurasse corrupção”.
Na réplica, Bolsonaro chamou a resposta do petista de “mentirosa”, acrescentando que “o seu governo foi o mais corrupto da história do Brasil”. No segundo momento do round, ou seja, na tréplica, Lula destacou ações de suas administrações, como a criação de empregos com carteira assinada.
Em outro confronto entre os dois sobre a paternidade e os valores do Auxílio Brasil para o próximo ano, Bolsonaro e Lula trocaram acusações e se chamaram de mentirosos. “Pare de mentir. Tá no seu DNA! Mentir e inventar números”, cutucou o presidente. O petista, então, retrucou: “é importante lembrar que a manutenção dos R$ 600 não está na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) mandada para o Congresso, há uma mentira no ar”.
Já quando o assunto foi sigilo de 100 anos a documentos públicos imposto pelo governo, Bolsonaro contra-atacou ao ter um direito de resposta concedido: “Que moral tu tem para falar de mim, ex-presidiário?” Já nas considerações finais, o petista devolveu a provocação: “O presidente sabe das razões pelas quais eu fui preso. Foi para ele se eleger presidente da República, que era preciso tirar o Lula do pedaço”.
Lula passou parte do debate na defensiva, enredado com o tema corrupção e focou mais no passado, ou seja, nas ações dos seus governos. Alvo dos demais candidatos, Bolsonaro focou nos feitos de sua gestão, irritou-se com perguntas sobre denúncias no seu governo, vacina e sigilo de documentos.
Em resumo, o atual presidente e o ex-presidente foram os que mais perderam com o debate pela postura adotada e pela competição em acusações. Por isso, é provável que não compareçam aos próximos confrontos.
Confronto proveitoso
Enquanto Bolsonaro e Lula trocavam acusações, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), que tentam se viabilizar como uma alternativa à polarização, souberam tirar proveito do embate com a apresentação de propostas para educação, saúde, economia e para os brasileiros endividados, porém sem deixar, em alguns momentos, de pontuar os problemas no atual e nos governos petistas.
“O Brasil é muito maior que Lula e Bolsonaro. (…) Triste o Brasil que tem que escolher entre o escândalo do Petrolão e do Mensalão do PT e o escândalo de corrupção da educação e do orçamento secreto do atual governo”, disse Simone, que adotou postura mais incisiva em relação ao Jornal Nacional.
Ciro também encaixou , pelo menos, em uma resposta crítica aos dois candidatos. “ Você (Bolsonaro) corrompeu todas suas ex-esposas. Você corrompeu os seus filhos. Essa é a questão. Tendo prometido que ia combater a corrupção do PT e do Lula. Essa é a grande contradição que você precisa explicar.”
Pauta feminina ganhou destaque
Fazia muito tempo que pautas femininas não tinham tanto destaque em um debate presencial quanto no confronto de domingo. O tema foi desencadeado por uma declaração do presidente Jair Bolsonaro a um questionamento feito pela jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, sobre cobertura vacinal. A pergunta foi direcionada a ele e a Ciro Gomes.
Na sua vez de responder, Bolsonaro rebateu as informações apresentadas por Vera e disse que ela não poderia tomar partido no debate. “Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, afirmou o presidente.
A partir do episódio, as presidenciáveis Simone Tebet e Soraya Thronicke saíram em defesa da jornalista e pautaram o tema nos blocos seguintes com discussão sobre políticas públicas para as mulheres e o enfrentamento dos femicídios, entre outras questões, envolvendo os demais candidatos.
“Tchutchuca e tigrão”
Candidata pelo União Brasil, a senadora Soraya Thronicke defendeu, em grande parte do embate, a sua principal proposta de campanha: a transformação de 11 impostos em único tributo. Também prometeu isentar professores do Imposto de Renda.
Entretanto, uma das declarações que mais chamaram a atenção foi quando defendeu Vera Magalhães. “Quando homens são tchutchuca com outros homens, mas vêm pra cima da gente sendo tigrão, eu fico extremamente incomodada. Aí eu fico brava sim. E digo mais pra você. Lá no meu Estado, tem mulher que vira onça. Eu sou uma delas,” comentou ela, sobre a novela Pantanal, gravada em Matogrosso do Sul, em que a protagonista Juma vira onça.
Muito mais em comum
Senadoras e candidatas a presidente, Simone Tebet e Soraya Thronicke fizeram uma dobradinha ao longo do debate e levantaram a bola uma para outra, até porque, em alguns blocos, só sobraram as duas de opção para perguntas.Mas as duas presidenciáveis têm mais em comum: são de Mato Grosso do Sul, são advogadas e Simone foi professora de Direito de Soraya.
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